O segredo para acalmar os miúdos e aumentar a concentração? A meditação
Fazer com que crianças do 1.º ciclo permaneçam em grupo, quietas, caladas e de olhos fechados durante vários minutos parece uma missão impossível. Mas não é. De norte a sul do País, há cada vez mais escolas a apostar nesta prática.
Pernas cruzadas, mãos em cima dos joelhos, costas direitas, olhos fechados. Um silêncio pouco comum para uma sala com dez crianças dos seis aos oito anos que só é interrompido pelo som mágico de uma taça tibetana. “Cada um vai perguntar ao seu coração como está hoje. Se está agitado ou calmo, triste ou feliz”. A voz doce de Sílvia Serra Fernandes conduz a sessão de Musicomeditativa®, uma técnica que une meditação e musicoterapia, que este ano foi introduzida na E.B. 1 de Vigia, no concelho de Vagos, e que também é praticada em outras escolas do distrito de Aveiro.
Quando os olhos se abrem, há sorrisos envergonhados pela presença do DN. “Vamos encher a barriga de ar e deitar o ar para fora”. Repetidas vezes. Agora mais “tranquilas e relaxadas”, as crianças deitam-se em silêncio, de olhos fechados, com as mãos em cima da barriga. “Vamos abrir os nossos ouvidos e ouvir este som mágico, que vai ajudar o nosso corpo a relaxar”. Durante vários minutos, mantêm-se assim: imóveis e em silêncio. “As nossas pernas vão ficar muito relaxadas”. Depois a barriga, as costas, as mãos, o coração, a cabeça, os pensamentos. Espreguiçam-se e voltam a sentar-se. Para terminar, o momento mais aguardado: o sino de vento (shanti) passa delicadamente de mão em mão.
De norte a sul do País, há cada vez mais escolas a oferecer aos alunos a possibilidade de praticar meditação, mas o número ainda é residual. Crisom Meditare é uma técnica que foi desenvolvida durante oito anos por Sílvia Fernandes Gomes, professora com formação em música e investigação na área desta prática. Chegou às escolas no ano passado (2015), mais concretamente à E.B.1 da Glória, em Aveiro, onde já faz parte do currículo, abrangendo atualmente cerca de 200 crianças. Na Vigia, é uma atividade paga e promovida pelo ATL.
Juliana Gonçalves, 10 anos, faz parte da segunda turma que tem sessões de meditação – de 30 minutos cada – à terça-feira na Vigia. “Andava sempre muito nervosa e a minha mãe inscreveu-me para me acalmar”, conta ao DN. Quando sai da aula diz que se sente “mais relaxada” e “às vezes” até pratica em casa. Laura Bernardes, 9 anos, também: “Em casa, cruzo as pernas à chinês, fecho os olhos e tento relaxar. Fico menos nervosa, mais serena e tranquila.”
Quando questionamos os alunos sobre o que mais gostam, dizem prontamente: fechar os olhos e tocar “os instrumentos da professora”. Além da taça de som e do sino, Sílvia costuma levar tambores, maracas e outros instrumentos de percussão. A música, “tendo uma estrutura predefinida”, ajuda crianças e adultos a chegar a um estado meditativo “muito mais rápido e intenso, gerando transformações psico-fisiológicas”. Aquele som é depois levado para outras situações do dia a dia. “A meditação não faz milagres, mas consegue mudar comportamentos”, destaca a formadora.
As crianças têm energia para dar e vender. “Acham que estar quietas é uma seca”, pelo que é um grande desafio fazê-las parar. “São o nosso futuro. Se as conseguirmos tranquilizar, vamos mudar a nossa sociedade daqui a 20 ou 30 anos”. Sílvia quer “ajudar as crianças a crescer fora do stress dos pais”. A meditação permite-lhes “controlar as emoções para que sintam, ajam e vivam de maneira diferente”. Por outro lado, estas práticas “auxiliam a memória e a concentração”, o que leva a uma “maior eficácia ao nível da aprendizagem”.
FONTE: https://www.dn.pt/sociedade/interior/o-segredo-para-acalmar-os-miudos-e-aumentar-a-concentracao-a-meditacao-5542043.html